Dicas para o homem do campo
Taxa de lotação ou capacidade de suporte do capim: qual vale mais para a fazenda?
O erro do planejamento forrageiro
O primeiro passo para todo processo produtivo deve ser o planejamento. Independente dos desafios ou alternativas a serem seguidos, o planejamento é fundamental para o sucesso do negócio, e assim também deve ser a dinâmica na produção dos animais criados a pasto.
Entender e planejar as etapas do processo e as variáveis daquele sistema é o primeiro passo para o sucesso.
Precisamos responder algumas perguntas básicas antes de realizarmos qualquer ação na fazenda. Por exemplo, em uma propriedade, temos o objetivo de recriar dois mil animais. Antes de alocar os animais na propriedade, devemos perguntar:
- É viável fazer isso?
- Eu vou conseguir proporcionar condições para o ganho de peso desses animais e sustentar o bom rendimento da fazenda o ano inteiro com essa taxa de lotação?
- Será que eu estou considerando as diferenças de produção de matéria seca da forragem nas estações do ano?
- A infraestrutura da propriedade é suficiente para o objetivo?
- O meu pasto comporta essa carga animal?
As respostas para essas perguntas nem sempre são simples. Antes de simplesmente comprar uma quantidade de animais e alocar na fazenda ou comprar todo o adubo e corretivo para aquela área, deve haver um planejamento prévio, levando-se em conta a área de forragem efetiva disponível, os dados climáticos da região (temperatura ao longo dos meses, índice pluviométrico e taxa de luminosidade), a espécie forrageira utilizada, e principalmente o objetivo desejado para determinado lote.
Ah! Não podemos esquecer de um detalhe fundamental, observar o fluxo de caixa da fazenda, principalmente quando pensamos em intensificação de áreas.
Quando esses cuidados não são levados em consideração, o produtor pode ter prejuízos. A superlotação é um deles, pois a alta taxa de lotação em áreas de pastagem acarreta o surgimento de plantas invasoras e um processo contínuo de degradação das áreas.
Isso traz consequências para o potencial produtivo da fazenda, pois ocasiona menor área efetiva de pasto, reduzindo ainda mais a capacidade suporte da fazenda, virando uma “bola de neve”, cada ano menos produtiva.
A sequência desse processo por longo período de tempo acarreta a necessidade ou quase obrigatoriedade do produtor realizar a reforma do pasto para continuar com processo produtivo na fazenda, aumentando de forma significativa o custo de produção e reduzindo a rentabilidade do negócio.
Manutenção da fertilidade do solo
A manutenção das pastagens com a utilização de corretivos, fertilizantes e o combate às plantas invasoras são medidas fundamentais para que as pastagens entreguem excelente produtividade, elevando a capacidade de suporte da fazenda.
As forrageiras são culturas perenes, ou seja, não precisam ser reformadas ano após ano como as culturas anuais do milho, sorgo e soja. Plantas perenes são resistentes, mas precisam de manutenção e, principalmente, de um manejo adequado para permanecerem vigorosas e produtivas.
O ideal é que anualmente seja realizada, de maneira criteriosa, uma avaliação das pastagens contemplando, inclusive, análises do solo nos piquetes, sendo possível, a partir dessa análise, o planejamento e as intervenções necessárias que garantirão a perpetuidade da área produtiva.
Cada espécie forrageira requer um nível de exigência em fertilidade, pluviometria e até mesmo são mais ou menos resistentes às variações de temperatura, principalmente a baixas temperaturas.
Um dos pontos importantes na escolha da forrageira, sem dúvida, é a fertilidade da área a ser implementada. Colocar forrageiras mais exigentes em solos pobres em nutrientes, sem realizar a correção e adubação da pastagem, pode gerar queda da produtividade e consequente degradação.
Sendo assim, o primeiro erro a ser observado é a escolha inadequada da espécie forrageira e, principalmente, a ausência de manutenções corretamente realizadas nas áreas empastadas.
2. O erro no manejo do pasto
É preciso saber as características de cada gramínea para poder manejá-la de forma adequada. Cada espécie forrageira detém em suas características anatômicas e fisiológicas, fatores que determinam suas condições de crescimento, de rebrota, de emissão de folhas e caules, que impactarão diretamente na forma como devem ser manejadas.
Cada gramínea deve ser manejada, independente do sistema de pastoreio, rotativo ou contínuo, respeitando a altura correta de entrada e saída dos animais. Essas alturas são definidas após a observação do que chamamos de interceptação luminosa, ou seja, do momento exato de crescimento da planta onde as folhas emitidas bloqueiem cerca de 95% dos raios solares que chegam à base da planta.
Esse momento em específico foi determinado através de pesquisas, pois a partir dele a planta começa a apresentar a presença de material senescente (morto) em sua base, e principalmente por iniciar a emissão de caules, na busca por maior luminosidade.
Além disso, sabemos que quanto maior a proporção de caule em relação às folhas, menor tende a ser o desempenho dos animais que consomem aquela forrageira.
A altura de saída ou o resíduo deixado após o pastoreio dos animais também deve ser respeitada e é de grande importância para que se tenha naquele dossel uma rebrota adequada. Quando não manejamos dentro desses critérios, corremos sérios riscos de reduzir desempenho animal, degradar o dossel, entre outros fatores prejudiciais à produção.
Desrespeitar o desenvolvimento das plantas e realizar o manejo imperfeito da colheita dos pastos é erro determinante no fracasso da produção de gado a pasto.
3. O erro da adubação sem ajuste de carga
O ajuste de carga, ou seja, relacionar a carga animal à disponibilidade de forragem, é ponto fundamental para aumentar a produtividade.
Deve-se ter em mente quanto do pasto produzido é possível colher através da eficiência de pastejo sem que a condição de crescimento da forrageira seja afetada de forma negativa.
Dica importante: não adianta adubar o solo para produzir mais forragem, se não tivermos recurso em caixa. Pois, se não conseguirmos comprar o número de cabeças ideal para ajustar a lotação, muito tempo e dinheiro será perdido.
Além de ter desembolsado um alto valor com insumos, a qualidade da pastagem irá cair, pois o ponto de colheita provavelmente irá passar e então ocorrerá um alongamento de hastes e consequentemente uma queda no desempenho dos animais. Assim, o custo irá aumentar, piorando o resultado da fazenda.
Adubar e não colher o pasto da forma correta também é um grande erro que devemos evitar em nossas propriedades.
Suplementação e manejo de pastagem na seca
Para termos pasto na seca, precisamos vedar o pasto nas águas. Por maiores que sejam os benefícios do uso das pastagens durante o período das águas, a produção animal durante todo ano nos pastos, exige que poupemos pasto das águas para uso na seca.
Entretanto, essa vedação de pastagem nas águas deve ocorrer de forma criteriosa. Sabemos que pastagens vedadas por longos períodos dão origem a forragens com grande proporção de caule/folha, diminuindo a qualidade bromatológica da planta e, principalmente, dificultando o pastejo dos animais.
Acontecem ainda outras perdas por acamamento e por pisoteio. Sendo assim, nas águas, o tempo de vedação deve ocorrer de maneira adequada para a forragem crescer e permitir que o animal colha essa forragem da melhor maneira possível.
Vedando o pasto com altura correta, por um tempo adequado concomitante com perfeitas condições climáticas, teremos uma pastagem com as características ideais para o período de seca, permitindo assim o pastejo por parte dos animais e, consequentemente, um bom desempenho quando associado à suplementação.
Conseguindo na seca um pasto que foi vedado, que tenha ficado com características adequadas, com boa quantidade e qualidade, lançaremos mão da suplementação durante o período de estiagem.
A suplementação durante o período sem chuvas tem como um dos principais objetivos melhorar, por parte dos animais, o aproveitamento da massa de forragem ingerida.
Pode também aumentar em até 32% a digestão da matéria seca, e aumentar a taxa de passagem do alimento, permitindo que o animal consuma maior quantidade de MS, aproveitando melhor essa forragem ingerida.
É importante sempre realizarmos uma suplementação conexa com as condições de pastagem. Quando a suplementação é adequada, conseguimos uma maior taxa de degradação no rúmen e o aumento da síntese de proteína microbiana. Ou seja, a suplementação fornece também benefícios indiretos para os animais.
O ganho adicional pelas características da pastagem é maior nas secas do que nas águas, o que reforça a necessidade e a oportunidade de suplementação nas secas.
Vale ressaltar também que a suplementação, independente se for de 1, 3, 5 ou mais gramas por Kg, deve seguir sempre um planejamento realizado dentro das condições de logística, de pastagem e das condições econômicas da propriedade.
Deve-se ainda observar a categoria dos animais suplementados, por exemplo: animais desmamados com 210Kg (7 arrobas), entrando na fase de recria no período seco do ano, a suplementação (dependendo das características das pastagens) dará resultados de 0,250kg, 0,350kg, e 0,430kg de GPD (ganho de peso diário), quando os animais forem suplementados com 1g/Kg, 3g/Kg ou 5g/Kg, respectivamente.
Isso implica diretamente nos dias totais para ganho da arroba, no desembolso por parte do proprietário e nos custos de produtividade. Por isso, é extremamente importante o conhecimento dessas variáveis para o sucesso da suplementação.
Suplementação e manejo de pastagem nas águas
Antes da suplementação, devemos nos atentar para as características da pastagem durante as águas, pois, é nesse período que as forragens têm as melhores condições para crescimento e produtividade. Um bom manejo das pastagens neste período evitará possíveis erros no manejo.
O manejo se difere de acordo com a espécie forrageira e com suas características, principalmente, de crescimento. Os mais importantes quesitos a serem observados e respeitados são a altura de entrada e a altura de saída dos animais no pasto. O fato do pasto estar verde não significa especificamente que o pasto está bom.
É muito comum observarmos pastagens boas que passaram do momento de ser pastejadas, dificultando o ato de bocada do animal, além de ter uma alta proporção de caule em relação às folhas.
Para aperfeiçoarmos o uso das pastagens, devemos estar atentos à altura da forragem para que ela não cresça demasiado e ocorra um desperdício de capim.
Também não devemos deixar os animais permanecerem no pasto quando a altura da planta já estiver muito baixa, devendo a saída dos animais ser antes deste momento.
Neste último caso, além de diminuir a eficiência de produtividade do animal, que consumirá uma gramínea de menor qualidade, há maior dificuldade na rebrota dessas forrageiras. Mesmo quando se trata de pastagens rotacionadas e/ou irrigadas, a rebrota é defasada quando a altura da forragem na saída dos animais é abaixo do ideal.
Quando temos um manejo excelente das pastagens, com animais entrando em um pasto de boas características, com altura ideal, e respeitamos a altura de saída, privilegiando tanto a planta como o animal, aí sim lançaremos mão da suplementação nas águas como uma ferramenta para potencializar o ganho dos animais.
Pastagens bem manejadas com alta densidade de forragem permitem que o animal consuma maiores quantidades de MS com menos bocados. Produzir pastos onde, com poucos bocados ocorra grande ingestão de MS, é um grande passo para o bom desempenho animal durante o período das águas.
Com essas definições, podemos então entrar nas características da suplementação em si. Com pastos de boa qualidade, a suplementação atenderá uma pequena exigência do animal, sendo responsável por um ganho a mais do animal que ele teria somente com o pasto.
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